Exposição Respirar

Forte de São Julião da Barra – Oeiras

Respirar

«The importance of breathing need hardly be stressed. It provides the oxygen for the metabolic processes; literally it supports the fires of life. But breath as “pneuma” is also the spirit or soul. We live in an ocean of air like fish in a body of water. By our breathing we are attuned to our atmosphere. If we inhibit our breathing we isolate ourselves from the medium in which we exist. In all Oriental and mystic philosophies, the breath holds the secret to the highest bliss. That is why breathing is the dominant factor in the practice of Yoga.»

Alexander Lowen – The Voice of the Body

A Arte em José Teixeira Ribeiro não se pode dissociada da sua forma de viver, já que tem um percurso de vida que não pode ser escamoteado. O autor tem efectivamente uma vida longa, tendo vivido extraordinárias experiências. Foi ao longo desse percurso que se construiu como ser humano e houve, numa fase do seu percurso de vida, uma profunda transformação que passou desde logo por um recentrar das prioridades e até pela alteração da forma de estar e de existir. A tal não foi alheia uma introspecção pessoal, que passou pelo questionar do mundo consumista e de desperdício onde vivia, onde todos vivemos, por uma auto-análise crítica, o que teve como consequência que se aproximasse de uma praxis vizinha das doutrinas Wabi-sabi japonesas, que aliam sábios ensinamentos budistas à transformação da visão global que passa a ser eminentemente estética, mas também ética.

Verdadeiro globetrotter cruza o mundo sistematicamente e vê a sua evolução, ou melhor a sua continuada involução, que considera sem sentido, que entende ser uma verdadeira incongruência. É desta vivência que deriva a sua necessidade de se exprimir plasticamente, algo que pode ser visto como uma necessidade de reflectir sobre a sua existência através da Arte, sentindo a imperiosa necessidade de carrear as suas preocupações para obras que não podem ser dissociadas da sua experiência.

Começa pois a criar e aqui, uma vez mais, retoma as sábias propostas Wabe-sabi, transmitindo, em obras que a cada momento vão sendo mais experimentais,  não uma visão ocidental que tem muitas vezes como terrível contrapartida a transitoriedade das coisas, mas um olhar que realça uma contenção, uma naïveté deliberada, que permite encontrar o Belo na imperfeição ou nas próprias marcas do tempo, numa atitude de enorme serenidade que transformou o autor, incrementando a sua compreensão e fruição do mundo e que se estendeu até a actos tão simples como a própria forma de ver ou de respirar.

Alexander Lowen, o fundador da bioenergética que compreendeu que o acto de respirar é bem mais complexo do que poderá parecer e vai muito além de uma mera função pulmonar, afirmou que «It is a common belief that we breathe with our lungs alone, but in point of fact, the work of breathing is done by the whole body.»

É este o ponto fulcral para a compreensão das obras que José Teixeira Ribeiro presentemente expõe:

A questão da respiração.

Pode e deve, pois, desde logo, ser colocada uma pergunta de resposta menos ortodoxa: será que respiramos individualmente ou colectivamente?

A resposta está uma vez mais nas instalações e obras que agora podemos fruir, obras que permitem múltiplas leituras, mas que nos obrigam sempre a questionar a nossa postura perante o mundo que nos envolve. Assim, ao arrepio do que está instituído, Teixeira Ribeiro faz-nos intuir que as preocupações que temos, ou que todos deveríamos ter com o meio ambiente, se prendem com o facto de todos respirarmos em conjunto e o mesmo ar. Da respiração dever ser realmente vista, do ponto de vista filosófico, como um acto colectivo.

Efectivamente como explicar que num momento em que a Ciência avança, num momento em que há maior possibilidade de criar tecnologias limpas, produzir energia a partir de recursos renováveis e que não prejudicam o planeta, quando, em suma, o Planeta poderia melhorar, verifica-se que, pelo contrário, está cada vez mais poluído, que há cada vez menos sustentabilidade, que todos os dias há espécies que desaparecem, que a subida da temperatura é inexorável, em suma, que a Terra definha.

Por fim cite-se, a este respeito, o notável romancista russo Ivan Turgueniev

«Sem autenticidade, sem educação, sem liberdade no seu significado mais amplo – na relação consigo mesmo, com as próprias ideias pré-concebidas, até mesmo com o próprio povo e com a própria história – não se pode imaginar um artista verdadeiro; sem este ar não é possível respirar.»

De alguma forma as obras, as peças, videoarte e as instalações de José Teixeira Ribeiro ajudam-nos e também nos ensinam a estar vivos.

E é tão bom respirar …

Paulo Morais-Alexandre

Professor do Ensino Superior, investigador e ensaísta. Regente das cadeiras “Problemas da Arte Contemporânea” e “História da Arte” na Escola Superior de Teatro e Cinema. Doutor em Letras, especialidade de História da Arte pela Universidade de Coimbra. Pró-presidente para as Artes do Instituto Politécnico de Lisboa.